terça-feira, 27 de julho de 2010

A violência nossa de cada dia...


Diante dos episódios de violência contra a mulher que têm ganhado as manchetes nacionais e internaionais, hj eu deixo para reflexão de todos(as) esse cordel. Achei muito interessante. Espero que vocês possam refletir, e não apenas isso, mas tornarem-se militantes da causa da não violência contra a mulher. Vale apena ler até o fim!


*O CASO 'ELIZA SAMÚDIO'*
*E O MACHISMO TOTAL*
O caso Eliza Samudio
Que tem chocado o Brasil
Emerge como prelúdio
De um grande desafio:
*Exortar nossa Justiça*
*Pra deixar de ser omissa*
*Ante o machismo tão vil!*
Trata-se de um momento
De grande reflexão
Pois não basta só lamento
Ou alguma oração
*É hora de provocar*
*Propondo um outro olhar*
*Sobre processo e ação*
Saiu na televisão
Rádio, internet e jornal
Notícia em primeira mão
Toda manchete é igual:
Ex-amante de goleiro
(Aquele cheio de dinheiro!)
Sumiu sem deixar sinal
Muita especulação
- discurso de autoridade-
Uns dizem que é armação
Outros dizem que é verdade
Polícia e delegacia
Justiça e promotoria:
Fogueira de vaidades!
Mei-mundo de advogados
Investigação global
Cada um no seu quadrado
Falando em todo canal
*Subjacente a tudo*
*Um peixe muito graúdo:*
*Androcentrismo total!*
A mídia fala em Bruno
Eliza e gravidez
Flamengo, orgia e fumo
-esta é a bola da vez!-
Tem muito 'especialista'
Em busca de alguma pista
Pra ser o herói do mês
*E a história se repetindo*
*Mudando apenas o nome*
*Outra mulher sucumbindo*
*Sob ameaça dum homem*
*Uma vida abreviada*
*Cuja morte anunciada*
*A estatística consome*
Assim é a violência
Lançada sobre a mulher
Ela pede providência
E cara faz o que quer
Mas a Justiça, que é lerda,
Machista, 'fazendo merda'
Vem com papo de mané
E oito meses depois
Da 'denúncia' inicial
Que é o feijão com arroz
Do distinto tribunal
Nadica de nada existe
Mas autoridade insiste
Que isto, sim, é normal:
“A culpa é do Instituto
Que não mandou o exame”
- isto soa como insulto
e daqueles mais infame-
Não era caso de urgência?
-tenha santa paciência!-
Para que serve um ditame?
A moça buscou amparo
Na Justiça do país
Agiu correto, é claro
E esperou do juiz
O tal reconhecimento
Sobre o pai do seu rebento
Tendo a vida por um triz
Também fez comunicado
Ao campo policial
Dizendo que o namorado
Praticou crimes e tal
*Buscou as vias legais*
*Enfrentou feras reais*
*Terá sido este o seu mal?*
Mesmo com a delegacia
Dita especializada
E com toda a apologia
De uma Lei avançada
*Faltou ter a ruptura*
*Com aquela velha cultura*
*De que a mulher é culpada*
E o cumprimento legal
No caso, muito importante
Seria mais um arsenal
Para enfrentar o gigante
*Mudar a mentalidade*
*De nossas autoridades*
*É fator preponderante*
E para que isto ocorra
Entre outra alternativa
Antes que mais uma morra
E o caso fique à deriva
*É preciso compreender*
*Que Justiça é pra fazer*
*Enquanto a mulher tá viva!*
Sei que nada justifica
Que haja tanta demora
E enquanto o caso complica
A vítima 'já foi embora'
*Sem medida protetiva!*
*Sequer prisão preventiva!*
*Quanto inoperância aflora!*
Se o exame era necessário
À elucidação do crime
O Estado-perdulá rio
Neste campo fez regime
Ficando no empurra empurra
No velho: ''mulher é burra,
e joga no outro time”
Todo crime tem problemas
De toda diversidade
Assim como há esquemas
Também há dificuldades
Mas pra mim é evidente
Que o machismo presente
Premia a impunidade
Machismo compartilhado
Por gente de toda cor
Do goleiro ao empregado
Do primo ao executor
Autoridades também
Implicitamente têm
Um machismo inspirador
Cada 'doutor' se expressa
Centrado no garanhão
É o mote da conversa:
Fama, grana e traição
Ao se referir a ela
Falam da menina bela
Que fez filme de tesão
Falta a compreensão
Da questão relacional
Gênero, classe, profissão
Cor e status social
O processo é narrativa
Que emerge da saliva
Falocêntrica- legal
E ainda que alguns digam
“Oh, Eliza, coitadinha”
E suas doutrinas sigam
Desvendando pegadinhas
*A escola dogmática*
*Do direito-matemá tica*
*Perpetua ladainhas*
*Processo judicial*
*Só serve para punir?*
*Havia tanto sinal...*
*Não dava pra prevenir?*
*E a tal ação civil?*
*Alimentos deferiu?*
*Para o bebê consumir?*
É um momento de dor
Para a família dos dois
O caso é multifator
Não basta dar nome aos bois
*A lógica policial*
*Cartesiana e formal*
*Festeja tudo depois*
*Por isso se faz urgente*
*Conjugar gênero e direito*
*Pois um trabalho decente*
*Que surta algum efeito*
*Não se limita a julgar*
*Mas também a estudar *
*O cerne do preconceito*
*Homens que matam mulheres*
*Em relações de poder*
*Isto tem se dado em série*
*Mas é preciso entender*
*Que subjaz ao evento*
*Um histórico comportamento*
*Que vai construindo o ser*
*A nossa sociedade*
*Apesar da evolução*
*Reproduz iniquidade*
*E também muita opressão*
*Homem que bate em mulher*
*- E “ninguém mete a colher” -*
*Sempre foi uma 'lição'*
*Aprendida por goleiros*
*Delegados, professores*
*Motoristas, marceneiros*
*Pedreiros e promotores*
*Garçons e malabaristas*
*Médicos e taxistas*
*Juízes e adestradores*
Por isto em nossos dias
De conquistas sociais
De novas filosofias
Direitos especiais
*Não podemos aceitar*
*Justiça só pra apurar*
*Crimes tão excepcionais*
Que a Justiça também
Sirva para (se) educar
Chega deste nhém-nhém-nhém
Deste eterno blá-blá-blá
*A Lei Maria da Penha*
*Existe pra que não tenha*
*Tanta morte a lamentar!!!*
*Salete Maria *
doutoranda do PPGNEIM (Programa de Pós -Graduação do NEIM)

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