"Nina é menina mulher que foi mãe aos 10 anos. Deixou de ser criança porque carregava outra na barriga. Amadureceu no tranco mesmo, bem mais rápido do que a natureza havia planejado. O relógio que a vida lhe deu de surpresa é totalmente maluco, muito apressado. "Minhas amigas levavam boneca para a escola. Eu tinha uma que me esperava em casa. Mamava, sentia fome e precisava do meu beijo para dormir." Brincadeira de criança era ser mãe. E o sonho de ter uma filha nasceu de uma violência brutal. De uma dor que ninguém consegue medir. Nem ela. Nina foi estuprada em casa pelo padrasto, no município de Belém, no Sertão da Paraíba. Sem perceber, de uma hora para outra, começou a vomitar muito, perdeu o apetite e viu uma barriga gigante pular do seu corpo. A história dela é também a história do descaso, da falta de acesso a direitos básicos, da lentidão oficial, do desleixo, da humilhação com rubrica da Justiça e de todas as negativas possíveis. O "sim" ela não conhece nem de vista. Nina é colecionadora de "não". É rosto de um pedacinho envergonhado do Nordeste que cala qualquer um. Mas deu um chega pra lá na vida e seguiu assim mesmo. Tinha tudo e mais um pouco para dar errado. Deu certo."
O texto acima é parte da matéria "Reencontros" do JC online. Nela encontraremos histórias reais de pessoas simples que lutaram e lutam até hoje pra ter o mínimo de dignidade necessária a sua sobrevivência. Pessoas e histórias que todos precisamos conhecer!
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